O&O

Numa caixa tens as prendas.
As prendas tens numa caixa,
P'ra q'assim te surpreendas
Um pouco antes da rebaixa.

Tens na caixa o que sinto
E o meu dia tão frenético,
Tens na caixa um labirinto
E tod'o meu lado poético.

E sim, pois és essencial,
"... não sei que mais e coisa e tal"
Dou-te a caixa amor... Feliz Natal.

Olhos no Mel II

Está frio e a folha vai
P'rós pés do Pater ramo.
Definhando mais uma cai,
Enquanto aqui declamo.

Triste e vil façanha
Da nascida esverdeada,
Perece pois é castanha,
Outrora avermelhada.

Enquanto se vão mutando
Qual astuto camaleão,
Mais umas vão redundando
No árido espaço de chão.

A idade não lhe perdoa,
Nem tão pouco o temporal.
A folha que já foi boa,
Deixou de o ser afinal.

Cascatas

© Trêsporcento

Boa Noite

Enquanto o meu pé procuras
Com o teu, pé deslizando,
Ainda que quase às escuras
O meu, astuto, vai-te esperando.

Não fosse o barulho, ou a temperatura
Que lentamente nos vai consumindo
Esses indícios que vão emergindo
Respondem-nos que; "Chegou a'ltura".

(Saltemos então, já, tal parte
Só nossa, tal intimidade.
Pois nosso aconchego é arte
Nosso refúgio jorra verdade).

Ajeitas agora, teus longos cabelos,
Sob um pesado e intenso véu.
Eu, deslizo ambos os cotovelos
Preparando-me para... Tocar o céu.

E, em meu dorso, finalmente poisas,
Teu intenso e comprido perfume.
Essas labaredas de pequenas coisas
São a nossa paixão, o nosso lume.

Algum Dia Te Disse?

Algum dia te disse
Como é bom segurar-te?
Ainda que m'abstraísse
Augurava apenas tocar-te.

Já mencionei alguma vez
Que deveras sinto falta,
No círculo da tacanhez
Ver uma imagem tão alta?

E mencionei a vertigem
Das coisas mais pequenas?
Elas que são a origem...
De sensações tão terrenas.

Não sei se te roguei
Para lá das cortinas
Tão felpudas, eu ousei
Contemplá-las tão finas.

Algum dia te disse
Qu'o teu espírito encantador
E a tua essência de flor,
Fizeram que emergisse
O meu cariz trovador?

A Casa com Cercas Brancas II

Estamos os dois sentados
C'uma reconfortante bebida
Enrolados numa manta comprida
Juntos, tão aconchegados
Sinto-te por fim, aquecida

Enquanto esticas as pernas
Deslizando-as nas minhas
Até agora sozinhas
Sinto-as tão longas e ternas
Desmesuradamente tenrinhas

Tuas bochechas ruborizadas
Pelo brando lume da lareira
(Que vai engolindo madeira)
Parecem cerejas avermelhadas
(Ou é por estares à minha beira)

Desfias-me os caracóis
Soltando um ou outro riso
Cheiro-te o cabelo quase liso
Puxemos agora os lençóis
E... Voltemos ao paraíso

Deixas-me um beijo breve
No canto da sobrancelha
Deslizando par'a orelha
Mesmo sendo ao de leve
Irradia qual centelha

Acid Rain

© Liquid Tension Experiment

Deixa-me

Deixa-me contar nas entrelinhas
Tudo aquilo que tenho a dizer
Pois as palavras não são sozinhas
Trazem muito mais p'ra entender

Deixa-me dizer de modo vago
Esta história que eu te conto
Pois as palavras são meu afago
E meu silêncio é contraponto

Deixa-me cantar por poesia
Algo que não ouso em prosa
Pois as palavras são ousadia
Perante uma flor tão formosa

Deixa-me, deixa-me apenas falar
Em qualquer direção do vento
Pois as palavras são o luar
As palavras são nosso alento

Entrelaçados

Foi em frente aos violinos
Que vi uma menina simpática
Um pouco melodramática
De fulgores repentinos
E bastante enigmática

Será, qualquer uma das flores
Pois é fresca e viçosa
Um tant'ò quanto teimosa
Espalhando seus odores
Elegante, altiva, graciosa

A tal menina bonita
Dos cabelos acastanhados
(Por aqui, já mencionados)
Dá-nos por fim a pepita
De os trazer entrelaçados

This Train Is Bound for Glory

© Mumford & Sons | Edward Sharpe & the Magnetic Zeros | Old Crow Medicine Show

Untitled

© Sensible Soccers

Ela

Ela passa à mesma hora,
Perto da minha porta.
Momento que não demora,
Momento que mais importa.

Ela desfila na pedra rica,
Com a sua roupa escura,
Mas o qu'em meus olhos fica
É a sua longa envergadura.

Ela vagueia pela madeira
Com beleza de cigana.
Na aridez ela é roseira
Que me leva ao nirvana.

Ela por vezes evita
Comigo ter contacto,
Mas ela é tão bonita
Que me deixa estupefacto.

Ela por vezes é afável,
Riquíssima em simpatia,
Ou torna irrefutável
Toda e qualquer empatia.

Ela traz algo no olhar,
Algo tórrido e febril.
Ela faz-me despertar
O meu passado juvenil.

É só. E é tudo.

Apetece-me uns cabelos seguros
No topo de uma cabeça
E mesmo que algo aconteça
Que permaneçam escuros
E sua cor não desvaneça

Apetece-me uma boca pequena
Feita de lábios finos
Fonte de desatinos
Inversamente serena
A meus atos libertinos

Apetece-me um pescoço elegante
Estilete enlouquecedor
Para cheirá-lo doravante
Pois ele é deveras cativante
Tão delgado e tentador

Apetece-me umas mãos compridas
Com uns dedos alongados
Muitíssimo bem tratados
Ausentes d'unhas coloridas
Dignas de contos encantados

Apetece-me umas pernas longilíneas
Enfeitadas com estreiteza
Banhadas por singeleza
Completamente retilíneas
E repletas de magreza

Apetece-me uns pés imensos
Com algo de pitorescos
Quase rocambolescos
Delicados e extensos
Deliciosamente gigantescos

Apeteces-me.
É só. E é tudo.

Caliente

© Marco Bailey

Lust for Life

© Iggy Pop

O Sofá de Pele Italiana

© The Divine Comedy


Enquanto deitas a mão direita
Sobre a minha finíssima pele,
Colocas-te como qu'a espreita
De uma forma que m'impele.

Poisas então teu olhar
Sobre o guarnecido encosto,
Não necessitas perguntar;
"Faço-o, com todo o gosto."

Beijo tuas costas claras
Até os dois pontos finais.
Imperiosa me reparas;
"Sejamos, mais animais."

Fincas então os joelhos
Vincando-me o cabedal,
Vociferas par'os espelhos
De forma algo abissal.

Pingentes, os avantajados,
(Para tal estrutura mediana)
Viajam tão descontrolados,
No sofá de pele italiana.

Teus flamejantes fios
Que me preenchiam a mão,
Voltam a ser como rios
Desaguando noutra direção.


Da Cruz Francisco

Fiya Wata

© Edward Sharpe and the Magnetic Zeros

Hoje Estavas Mesmo Bonita II

Juro que trazia o palpite.
E tal intuição não falhou,
Parecia quase um convite
Que meus azuis contemplou.

Estava já algo impaciente;
Nem por serem poucos dias,
Falhou teu cariz sorridente.
(E como eu gosto que sorrias!)

Será, obviamente prazeroso
A todo e qualquer momento,
Mostrares teu lado gracioso
Oferecendo algum provento.

Hoje, hoje estavas mesmo bonita.
Sobre teu pescoço alongado
Teu negro cabelo, hoje enrolado.
Espero que se repita
O pedaço de El Dorado.

AFG

© Sensible Soccers

Eden IV

Novamente recorro a ti,
Para resolver a situação,
Pois aqui eu descobri
Como amainar o coração.

Talvez seja p'la natureza
Ou pelos gritos animais,
Que m'envolvem na pureza
De teus contornos especiais.

Por isso, de quando em vez
Venho provar-te a sabedoria
Que m'ofereces com fluidez,
Jardim, que m'ensinas magia.

Demora-te Comigo

Demora-te comigo...
Esquece o mundo e demora-te comigo.

Não levantes a cabeça
Que descansa no meu peito,
E que ele te ofereça
Tanto o quanto está satisfeito.

Esqueçamos os dois os ventos.
Será p'ra nós, cedo ainda.
Aproveitemos estes momentos,
Pois o mundo aqui não finda,
Enquanto vir tua face tão linda.

Encho de afagos e carícias
Teu fino e insinuante pescoço,
Meus afetos não vestem malícias
(Confesso), ainda que com esforço.

Cofio teu desnudo ventre
Com uma campestre flor.
Sentimos que é latente,
Por muito que se reinvente,
Nós encontrámos... O amor.

E entre mais um olhar
Disfarçando o encantamento,
Deixemos o tempo passar,
Mergulhando no firmamento.

Que este estado profundo
Nos sirva de abrigo,
E nos proteja do perigo;
Esquece o mundo...
Esquece o mundo e demora-te comigo.

Us v Them

© LCD Soundsystem

Hoje Estavas Mesmo Bonita

Incrível como passo horas
Para te poder contemplar.
Eis que sem quaisquer demoras
Em ti fui, casualmente tropeçar.

Reconheço, que já não vivo
Aquela desmesurada compressão.
Nosso conto será progressivo;
Longínquos tempos que virão.

Repleto fico quando te vejo
Em qualquer sítio ou local.
Tudo o resto p'ra mim é sobejo,
De pouco interesse, ou banal.

Hoje, hoje estavas mesmo bonita.
Deixaste um aceno e um sorriso,
Com teu negro cabelo, hoje liso.
Espero que se repita
O meu momento no paraíso.

I❤TECHNO II

Estaremos lá, p'ra mais uma noite
P'ra levar certinho, mais um açoite.
Não fui ao Porto no final de semana
Só p'ra ouvir esta música urbana.
Já me diziam a Érica e as Vânias
Que estas batidas frenéticas
Totalmente contemporâneas
São metralhadoras poéticas
E progridem como um turbilhão
As ondas que no peito nos batem
Imiscuem-se na pesada multidão
Ainda que não se resvalem.
Mas a valsa é tão bela,
É tão linda qu'até dói...
Diz-me de fino a Gisela
E a forasteira de nome Eloi.
E o viral ritmo não cessa
De vomitar nos aspersores,
Outro cigarro me crava a Vanessa,
Líder do grupo dos lutadores.
Preparemo-nos para o final,
Para a corrida ao abismo
Para um mundo surreal,
Voraz e latente cataclismo.

Entre o fumo não é mau,
Esta batida de desfecho
Deste ilustríssimo sarau
Digno de qualquer entrecho.

© Jesus del Campo

Para a Próxima, Talvez III

A tua visita esta madrugada
Foi morna brisa sorrateira
Há tempos por mim ansiada
Qual balada de música ligeira

No princípio tu fugiste
(Como acontecerá na verdade)
A posteriori me sorriste
(Como será, na realidade)

O meu afago é tão leve
Que não m'acalma a calidez
Seja ele, menos breve
Para a próxima, talvez

O teu corpo está prostrado
Sobre um verdejante tapete
Deixo-te um beijo demorado
Na tua fronte co'aroma a sorvete

E quando m'agarras a mão
Como qu'em forma d'embalar
Finda esta efémera sensação
Está na hora de despertar

Quando te vir lá de cima
Talvez tenha a robustez
De matar minha avidez
Para a próxima...
Para a próxima, talvez

What I Got

© Sublime

Não se Passa

Meu silêncio não funcionou
E acabou até, por ter graça,
Mas o que não começou
Acaba por ser já chalaça;
"-Não se passa!"

Se a indiferença é escassa,
E não t'acalma a vividez;
Digo-te mais uma vez,
Quase que já embaraça
Mas..."-Não se passa!"

Não compreendo a insistência,
E por tudo q'eu não faça,
A tua verdadeira raça...
Transforma-se em resistência,
Lo motivo da minha desgraça.

E quase me esquecia;
"-Não se passa!"

Viriato Vaz

À Daniela Rainha

Cara Daniela,

Hoje os nossos corações pulsarão,
O nosso torrencial amor será finalmente recompensado.

Quando vejo Mon Cher olhar para ti,
E estar em pânico horas a fio,
Vejo que vale a pena.

Quando te vejo olhar para ele,
Sinto que o que não me contas é,
Exatamente igual.

Que hoje seja um dia de mudança,
Como a que vocês já planearam.

Um abraço ou um sorriso que seja,
Fazem total diferença;
A tua genuína afabilidade é,
Impagável.

Porque não existe amor sem sofrer,
(Como mostra a Sofrendo por Você),
São as amarguras que nos fazem valorar a felicidade.
E ela é vossa.

Certamente vos baterei à porta, de braço dado
Com a Estrela das Minhas Manhãs,
No 25, para uma rabanada e um Porto com nozes,
Não é destino, é fado.

Hoje estaremos juntos;
Hoje e sempre.

Love

Daniel-San

Convocatória

Preciso da vossa ajuda.
Sim camaradas, uma vez mais;
A situação é deveras bicuda
Com contornos, algo especiais.

Pois é, bravos guerreiros,
Mais uma confusão vos espera,
Nossos caminhos serão traiçoeiros
Na busca, desta esbelta quimera.

Já pensei, as ideias gerais,
Poderá parecer até insano
Este visionário plano
Que tornará as coisas banais
Ainda antes do fim do ano.

Atacaremos em duas frentes
Com criatividade e glamour.
Guerrilheiros persistentes;
"Au nom de l'amour."

Não será fácil, aviso desde já,
(Esta missão quase impossível)
Mas conhecendo bem o clã
Terá o desfecho... previsível.

Seremos os onze do Daniel
Ou um golpe italiano,
De cariz suserano.
É este o motivo do cartel,
Meu nobre exército urbano.

Aberto está o nosso navio
Que aguarda a tripulação,
Pois só nela, eu confio
P'rátingir a assunção.

Para a Próxima, Talvez II

Perdi já o acanhamento
Em parte, (será mais certo)
Mas assim me alimento
Por te ter aqui tão perto

(Não há história que mereça
Algo que valha a pena dizer
Por estranho que te pareça
Nunca chegou a acontecer)

Não toquei teu negro puxo
Ou vi tua tímida esbeltez
Não me deste esse luxo
Para a próxima, talvez

Poderão estar esticados
(Como te ficam formosos)
Ou ligeiramente ondulados
De qualquer forma, maviosos

Desconheço o que te vai na cabeça
A não ser uma ideia plantada
Embora de força ela careça
Já vai crescendo, bem regada

Quando te vir cá de cima
Talvez perca a mudez
Te convide p'ro Gêres
Para a próxima...
Para a próxima, talvez

A Casa com Cercas Brancas

Vislumbro tua lânguida figura
Teu tom jovial e ameno
Aprazivelmente sereno
Contrastando na rocha escura
Com teus cabelos cor de feno

Teus olhos de água não vejo
Nem teu sorriso acidental
Simples, doce e divinal
(Despolotante de meu ensejo)
Torridamente angelical

(Porém, finalmente exulto)
Por entre o cenário alcantil
Moves teu avantajado quadril
Qu'embeleza teu estíptico vulto
Enfeitiçante grito Primaveril

Eis que cessa meu pesadelo
Vendo o arranjo de flores
Que trazes no teu cabelo
O teu corpo nu, sem pêlo
Teus ténues seios encantadores

Tua face brevemente pintalgada
Recebe esta brisa agreste
Vinda do norte azul celeste
Tornando-te arrepiada
Carente de uma veste


Da Cruz Francisco

Quintilhas à Maria João Rodrigues

Com atraso deveras latente
- Se não, pior pareceria
E ainda que na correria -
Desejo-te um dia sorridente
Ó nossa resplandecente Maria

Parece que te vejo na portaria
A sorrir, na brincadeira
Sempre alerta e ligeira
Pr'além de boa companhia
Sempre, Super-Porreira

Lisboa Mulata

© Dead Combo

Ao Ricardo Sousa

Parece que vejo o passado
Quando me esticaste a mão
Em época de turbilhão
Ainda eras bem anafado
Em mim já tinhas mais q'um irmão

Companheiro de várias marés
Acredita no meu sorriso genuíno
Feito por ti, meu libertino
Mas o que realmente és;
D'amores, O assassino

Será, sinto, será desta
Que na noite da vigília
Com os pés debaixo da mobília
Brindarão, claro em festa
Todos, uma grande família

© Dan in Real Life

To Ansky

Resumirei o essencial;
Caro amigo emblemático
De sorriso afável, simpático
Peça em tudo fundamental
Nobre gladiador informático

Juntos estaremos Navegante
De novo p'ra fazer arte
Que é o mais importante.
Eu, chegarei de possante,
Tu, chegarás de Smart

E faremos como naquele dia
Sim, no dia "Da Cena"
Vai já longe, é pena
O sol já n'altura sorria
E a nossa alegria foi plena

MJ

Até o Sol se Pôr

Viajámos por entre os montes
Pelas paisagens pastorais
Tão diferentes, quase iguais
Perdemo-nos nos horizontes
Tornámo-nos imortais

Tal era, o ambiente bucólico
Primórdio de natural esboço
Cedendo à tentação em teu dorso
Teu coração sistólico
Ouvi sem qualquer esforço

Estávamos já aconchegados
Cofiava teus cabelos coloridos
Dessa vez, intensamente garridos
Como sempre, perfumados
E razoalvelmente compridos

Comtemplámos p'ra lá das fragas
Ambientes variados, verdejantes
Naturezas até, dissonantes
Repletas, e também vagas
Ali tão perto e tão distantes

Alguns versos dum novo poema
Beijando-te a orelha segredei
Mas comigo ficou. Guardei.
Qual seria o seu tema
Em breve to revelarei

Para a Próxima, Talvez

Vagueio p'los socalcos metálicos
Repleto de ânsia e expectativa
Não fossem eles mecânicos
Mais duraria a tentativa

Ainda não foi desta vez
Que tive a honra e prazer
Para a próxima, talvez
Me consiga embevecer

Foi absoluta a surpresa
Acredita, não esperava
Deparar-me com tal beleza
Que há muito não encontrava

Tua bela figura esguia
E teu charmoso ar exíguo
Proporcional a fidalguia
Tal o nosso estado contíguo

Teu nome já o conheço
E pouco ou nada mais sei
Enfim, será já um começo
Aguarda, pois tentarei

Quando te vir cá de cima
Talvez tenha a sensatez
De perder a timidez
Para a próxima...
Para a próxima, talvez

O Menino da Sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.


Fernando Pessoa

Mr. Hot Dog

Estado: - "Sofrendo por Você"

Vai sorrateiramente emergindo,
O meu estado à tua mercê.
Estivesse eu sorrindo...
E não "Sofrendo por Você".

Mas ambos gostamos desta dança
De profunda e desmesurada atração.
Veremos p'ra onde penderá a balança;
Se nos dirá se sim, talvez, ou se não.

Enquanto nos embevecemos
Com palavras e afagos,
Calmamente nos conhecemos
Ainda que sejamos algo vagos.

Faltará a segunda parte
Desta música interminável,
Ouçamos, os dois, a arte
Será ela, p'ra nós memorável.

O Dia do Adeus

Privz Uma Vez, Privz Para Sempre

Meu Quente Agosto

Será para o pico do Verão,
Para o mês que mata a saudade.
Sucumbirá a tua história então,
Aos pés da improbabilidade.

Não teremos nenhum talvez
Tal tamanha proximidade,
Percamos juntos a timidez
Num momento de sobriedade,
Tenhamos ambos a sensatez
D'encontrar a, felicidade.

Porque esperamos os dois,
Haverá sequer necessidade?
Não deixemos p'ra depois,
Tornarmo-nos realidade.

Sabes, com tod'a certeza,
E absoluta veracidade,
Ajamos com clareza
Visto ser nossa vontade
Descobrir a riqueza
De sermos... cara metade.

Agarra-me com sagacidade,
Esta é a tua oportunidade,
D'entender que somos verdade.


Viriato Vaz

Sofrendo por Você

© Sensible Soccers

Ariel II

Teus cabelos curtos doutrora
São hoje do tamanho da saudade
Daquela que há tanto foi embora
Sem jamais abjurar a irmandade

Dançaste o samba depois do fado
Hoje alimentas a alma de flamenco
Seja qual for o teu consulado
Pertencerás sempre a este elenco

Sofremos pois, com a tua ausência
Ó bela e resplandecente sereia
Curvamo-nos em total deferência
Oferecendo-te esta simbólica epopeia

Mesmo longe, trazemos na memória
Teu sorriso, tua essência, tua glória
Teu papel fundamental, nesta estória


Carlos Gomes & Rebelo da Costa

Não Eras Tu

Sinto perto teu cheiro
Por entre tantos odores,
Ainda que chegue ligeiro
Inebria qual ramo de flores.

Vejo-te agora à direita;
Mesmo à minha frente.
De tanto estar à espreita
Julgo estar já demente.

E teus cabelos doirados
Impelem o meu avanço.
Longos, finamente esticados,
Esvoaçando no teu balanço,
Tornam-se como qu'avermelhados
Travando meu impetuoso lanço.

Mas sei que aqui estás
Perdida nestes aromas,
Basta que olhes p'ra trás
Emergindo sobre as sombras.

Os graves mudam de tom,
Ritmados e mais cadentes,
Pelo percurso ouço o som
De múltiplas línguas diferentes.

Agora sei, seguramente
Que valsas na multidão.
O meu desejo é premente
De t'encontrar na escuridão.

Namoro tua delicada anca,
Tão sinzelada silhueta,
Moldada por saia branca,
Enfeitada com fita preta.

O salão cruzo com perseverança
D'em meus braços te recolher,
Rapidamente perco a esperança;
Visto realmente, não te reconhecer.

Não és tu, não és.
P'lo que vejo confesso
Não foi um revés,
Antes, um sucesso.

E então dançamos
Por um bom bocado,
No bar conversamos
Riscando o passado.

Funciona, tal pertinácia
Pois brindamos os dois agora...
Poderá parecer falácia,
Mas ela quer, já ir embora.

Saímos os dois apressados
E logo começamos a perceber,
Estivéssemos menos tocados,
Saberíamos o que irá acontecer.

Bastantes copos e vários cigarros
Acompanharam tão belo momento.
Saímos de táxi, deixamos os carros,
O resto caiu... No esquecimento.

Acordo sem saber onde estou,
Mas vejo-te tomar banho...
Talvez não saibas quem sou
E permaneça p'ra ti um estranho.

Não me lembro como te chamas,
O que poderá ser um problema.
Assim parto, evitando dramas,
E não esperes, um telefonema.

Já cá em baixo sinto ar fresco,
Ele desliza sobre a calçada.
Surge-me um sentimento novelesco
Em forma de memória retardada.

Lembro que mantive a intrepidez;
Num gesto lhe estiquei minha mão.
Apercebo-me da tamanha estupidez,
De lhe ter dado, meu alvinegro cartão.

Voyeurismo 3.0

© Marta Ribeiro

Hey Now

© London Grammar

Ridi Pagliaccio

No "caras" esteve para ser,
Mais um abraço sem tema,
Mas como posts não sei fazer,
Lá terá de ser por poema.

Tendo em conta o teu cariz,
E primor em tudo que faço,
Dou-te um vermelho nariz
Visto seres... O Palhaço.

Imagino que estarás bem,
E sabes, por seres sagaz,
O que realmente convem,
É ser certinho e fugaz.

Valentine's

Como teu coração é perfeito
Assim. É belo mesmo assim,
Posicionado desse nobre jeito
Aguardando a flecha de S. Valentim.

Deixas antever a silhueta
Formosa, totalmente simétrica,
Rodeada de renda preta,
Repleta d'intensidade poética.

Ofereces-me trufas castanhas
Entre suspiros desmedidos,
Devoro-as até às entranhas
Com loucos ataques destemidos.

Inspiras-te a data, o momento,
Perpetuas-te o belicoso evento,
Embora não fosse esse teu intento.


Da Cruz Francisco

Untitled #8

© Sigur Rós

Temple of Love

© The Sisters of Mercy

Capitão, Meu Capitão

Onde estás meu amigo,
Meu amante, meu pendor,
Sem ti eu não consigo,
Acalmar este estertor.

Onde, onde, diz-me camarada,
Onde desagua a tua virtude,
Onde estremece tua passada
Plena de sapiência e vicissitude.

Faltas-nos, tanto, consciência,
Bálsamo, despótico lápis azul,
Mata-nos, devora-nos tua ausência
Nosso nobre, ilustríssimo Cônsul.

Somos, estamos tristes, acredita,
Salva-nos, se a vida tu permita,
Culminando da forma, tua favorita.

No Velho Coreto Abandonado

No velho coreto abandonado,
Mais um marco, uma vitória.
O momento ficou gravado
E ecoará p'ra toda a história.

Deslizámos no frio prado
Onde se cumpria tradição,
Já longe do chão molhado
Ouvimos gritos da multidão.

Descemos então à calorosa gruta
Do nosso ponto d'encontro francês,
Clássico, contemporâneo em disputa,
Ao som do rock perdemos a timidez.

No meu fogoso peito alvinegro
Sentiste a força do meu pulsar,
No ouvido pousei-te um segredo,
Que está ainda... por revelar.

Banhados na embriaguez dos sentidos,
Resvalavam os nossos pensamentos,
Foram rompantes, irreflectidos
E libertaram-nos nossos intentos.

Pousei a mão no teu dorso,
Ou pousaste a tua no meu.
Ainda que turvo, faço esforço
De recordar como aconteceu.

Nossos lábios estavam prometidos,
Destinados a uma dança final.
Nossos corpos compelidos
A viver algo especial.

(Quem) Serás Tu?

Quem és brisa do ascensor,
Sopro de firmamento etéreo,
Simples sorriso devastador,
Aurora de ânsia e de mistério.

Donde são teus cabelos fogosos,
Tua marcante figura altiva,
Teus olhos mais que formosos,
Tua identidade ainda furtiva.

Diz-me, canta-me tua graça,
E novamente nos encontraremos.
Revela o ocaso desta desgraça,
P'ra que embevecidos fiquemos.

Confessa que não foi feitiço
Ou um qualquer encantamento,
Que este sentimento afogadiço
Respirará com tod'o alento.

Conta-me que fomos imagem em tela,
Um romance de sétima arte
Que a nossa estória será bela
E nos cruzaremos em qualquer parte.

I❤TECHNO

Já vi a Vanessa e a Cátia Raquel,
Retrocedendo com o resto dos manos.
Todos deliram com o mel
Que têm estes beats insanos.
Avanço sem o copo entornar,
Esquivando-me dos roedores.
O DJ prestes a escochinar,
Para acalmar os sofredores.
Ainda sob o suspense
Deste ritmo agrosseirado,
Já não há quem não dance,
O mal foi... por fim libertado.
Toda a fila já marcha
Em comunhão agora sorri;
Toda a fila unida se baixa;
(Coisa q'eu nunca entendi).
Esta missa é um baile afinal,
Um duelo com duas frentes,
Um conjunto grito tribal...
Saudável fruta para doentes.
O êxtase já aconteceu,
O set agora abranda,
Pede-me um cigarro, já m'esqueceu
O nome... Jéssica, Marisa ou Cassandra?!

O sol já está bem alto,
No carro só oiço zumbido,
Assim atacamos o asfalto,
Com o peito todo dorido.

© Laurent Garnier and Jeff Mills

Não preciso mais escrever
Já tenho a semana completa
Mas ainda terei de fazer
Umas linhas pr'á Beta

Para a Loira, Com Carinho

Está quase a chegar a hora,
Mas não p'ro que estás a pensar
Todos juntos vimos agora
Honradamente te parabenizar

Eis que chegou a altura
Da homenagem merecida
Nossa amizade perdura
Viva a nossa Loira querida!

Lembro teus verdadeiros afagos
Que tantas vezes me deste na oito
Entre cafés e um par de cigarros
Bebias o iogurte e roías um biscoito

Esta Noite

© The Divine Comedy


Tuas longas unhas rubras
Percorrem as minhas costas.
Talvez assim tu descubras
Todas as minhas respostas.

E então, sem qualquer demora
Vou deslizando os cotovelos.
Tuas mãos apertam agora,
Os meus aloirados cabelos.

Vou afastando teus lábios
Qual calva e rosada cortina,
Usando destreza de sábios,
Lanço minha língua viperina.

E tua face antes esbranquiçada
Sucumbe ao desejo premente,
Tornando tua tez ruborizada
Tal o fervilhar de teu ventre.

Encrespamos agora o dorso,
Uma proa enfrentado a maré,
Apenas um último esforço
Prazeroso, realmente ele o é.

Fiquemos, o vazio a contemplar
Juntos, prostrados os dois,
O que tivermos para pensar
Deixemos p'ra depois.


Da Cruz Francisco

Privz

Ao King

Perguntavam enquanto avançava:
- Quem é que no campo impera?
Respondiam já a curva bruava:
- Já não sabes, é O Pantera!

Depois de tantos sustos nos deixou,
Infelizmente a vida é uma sátira,
Aquele que tantas vezes elevou,
Os braços de tod'a nossa pátria.

Creia, mestre do curvado chuto,
Que por toda a parte o chorarão,
Foi decretado pesado luto,
E milhões p'lo mundo o farão.

Por muito que eu não queira,
O nosso monstro espacial,
Eusébio da Silva Ferreira...
Humano se mostrou afinal.

Assim terminou sua senda.
O King, O Pantera Negra, A Lenda!

З Різдвом

Parecerá um paradoxo
Dado o lapso temporal,
Mas sendo o teu ortodoxo,
Desejo-te um Feliz Natal.

Que tenhas muitas prendas
No dia em que acaba a vigília,
No final te surpreendas,
Tu e toda a tua família.

No dia seguinte podemos jantar,
(Até já comprei tangerinas)
Para poder contemplar
A mais bela das Czarinas.

Pode ficar p'outro dia
Se preferires ir ao cinema,
Mas o que realmente m'apetecia
Era escrever-te um poema.

To Vato Leon

Não sei, não falei co'ninguém
Apenas vi no livro das caras
E prontamente t'avisarei
Que de nós, não te separas!

Desculpa, não te pedi,
Com'o Rui Pedro, sou isento,
Mas hoje eu percebi...
Que estás um pouco amarguento.

Ninguém te tira a razão
Disso, estou eu bem certo,
Mas acho fazeres confusão
Ao culpares apenas o Berto.

Apontarás também a Loira,
O Brasileiro e o Alexandre,
Por-te-ão na manjedoira...
Até que a storm abrande.

Com a Claúdia e até o Pastor
E os belos seios da Luísa,
Todos te daremos amor
E tudo o qu'o Ese precisa.

O Palhaço safou-se em bom tempo,
Teria umas cenas para fazer...
Felizmente tev'o contratempo,
De seus "amigos" ter d'entreter.

Na trama não se meteu
Só soube da turbulência,
O Cavelos permaneceu
Sem peso na consciência.

Sangue terás tu nas veias,
Na vertente de teus amassos.
Espero que não toques no Areias,
Passou ele nas pingas, e seus espaços.

Agora para descontrair,
Relembro a flautista Rita
Que s'ajoelhou a sorrir,
Nesta terra qu'é tão maldita.

.com II

Este é meramente informativo.
Será .com revisitado, camaradas
Mais um momento progressivo,
Das estórias por aqui contadas.
Após quase dois de interregno
(Lamento amigos), não vos sonego.
Mas ele voltou, tal é o fulgor,
Outrora menino, hoje navegador.
E mais viajamos sem saber o porquê,
Sabem todos, menos quem não os lê.
E a segunda morada, que levou uma surra?
Semper fi, Marine style, Hoorah!
Talvez leccionem na Ásia ou Oceânia,
O português, o que há muito não acontecia.
Tendo dobrado o segundo, carece confirmação,
Quererão vocês festejar, jantamos ou não?

© Rebelo da Costa