Chove. É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

Happy Birthday by Alex e Bini

E Porque o MAR Não Esquece a Sua Tripulação...

E(n)levo

Importante e erudito, deveras,
De passo apressado e dedos a estalar,
Ele traz nos olhos o brilho das quimeras,
A atitude dos que jamais se irão resignar.

Por sonhar que o céu não conhece tecto,
Prontamente mostrou ser sui generis,
Como poucos inculca a doutrina do afecto,
De curtos ou longos, é o homem dos perfis.

Assim continua a sua caminhada,
Pois o leito segue o seu rumo natural,
A sua valsa será para sempre lembrada,
De entre todas seguramente, a mais especial.

A ti, que tão bem comandas o navio,
Te desejo um futuro belo e luzidio,
E por muitos anos apagues este pavio.

Desfolhada Portuguesa

Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor
filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.

Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.

Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra
oh minha água e minha sede
oh mar ao sul da minha terra.

É trigo loiro
é além tejo
o meu país
neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca em movimento.

Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.

Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.
Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.


Ary dos Santos

Fssshhhhhhhhh

Sigo na frente com a minha bandeira,
Deliciado a levo a qualquer parte,
Desfilamos, os dois, na passadeira,
De tão nobre, faz o nosso baluarte.
No meio, um, traz o clarinete,
O do bombo e o que espreme o metal,
Eles deliciam como um covilhete,
Nesta melodia transcendental.
Ao fundo, ouço o lanço de mais um foguete,
Sobe lá alto, de bela explosão,
Finaliza assim este ramalhete,
Este sentimento de imensidão.
Seguimos então de forma sobranceira,
Este caminho de obra d'arte,
Exulto por esta renascida fogueira,
Que completa o brasão do meu estandarte.


Pommm!!!!

Giga giga giga
POMMMMM
POMMMMM
POMMMMM
Giga giga giga
POMMMMM
POMMMMM
POMMMMM

Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., — unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... — abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!


José Régio

Nada

Belo o doce rosto que é doçura,
Belo o sentimento remanescente,
Ele era o auguro de candura,
Ele é o ritmo dum doente.

De dar voltas para trás e para a frente,
E tentar enlevar a mais pura,
Não vemos o rosto nem a figura,
Não lemos as cores do que é crente.

Sendo gritante a falta revoltante,
Mostra possuir a negra alvura,
Desprezível e insignificante.

Encantamento

Por entre sonhos aveludado,
Humedecido em florestas de avelã,
Nascido de façanhas é encantado,
Manuseado por minuciosa tecelã.

Um manto que se espalha de veludo,
Um porto seco, frutado a noz,
Um grito quente é o prelúdio,
Que lentamente nos cala a voz.

É figo doce tocado a pinhão,
Que nos envolve no mais sagrado,
Juntos, os dois, lado a lado,
A tua cabeça descansa no meu coração.

Von (Heima)

© Sigur Rós

20 horas antes...

-Então, quem falta?
-Oh, o Cabrão, claro.
-Sempre a mesma m.....! P... q....!
-E o Palhaço?
-Já saiu, vem ai.

4 horas depois...

Entre cabos para a frente, cabos para trás...

-Tenho de ir lá cima..
-Liga ao Alex...
-F...., sempre a mesma m.....
-O que queres? isto tava a dar.
-Claro!!!!!!!!!!!!!!
-F...!
-Não sei do meu guião.
-F..........! Faz 3. Sempre a mesma m.....!


30 m de acertos depois...


-Então vá, manda as primeiras falas....
-Mas falta o Hugo.
-F....!começa, ainda falta para a parte dele.


-A meio do primeiro acto...

-Ninguem se dignou a trazer gelo?!?"?
-Anda lá, tamos bem....
-Pois tamos ,isto é ping-pong.
-Quero ver mas é a seguir...
-O terceiro, nós só ensaiamos 3 vezes.
-Relaxa, esse somos só nós os dois....

20 m depois........


-Não filho, agora é a parte do "Olá cara Leonor".
-Então já não fizemos essa?
--Não, agora é a parte da revelação....
-F..... , tá lindo.

Depois de sabermos que era preciso um ponto....

-Pá , tá bom, manda já o segundo.
-Ansky, tens de tar mais atento as tuas entradas.
-F.....! u nem sei onde voces andam....
-Tens de ver no fim das falas.


Cerca de uma hora depois... e com coreografias incluidas pela primeira vez....


-Isto tá uma catastrofe, não temos hipotese, até o que sabiamos tá a resultar mal.
-Calma, o Pastor vai fazer de ponto, não temos hipotese.
-F....! Ele nem sabe as falas.
-Tou é preocupado com o moulin, és capaz?
-Tou a morrer, f.....!
-C......., disse-te para ouvires a musica! Era só seguires.me.
-Não consigo.
- Ok. Ankhy, aponta pra fazer.........

30 m depois.........

-E os barcos filho?
-Como vão ficar?
-F....! oh Garça, f....., se não fazes nada vai buscar de beber.
-E a parte do combate?
-Se ficar bem amos safos....
-Filho, isto não tá a sair bem.




" Uma Estória que não para de acontecer..."

Come Undone

© Duran Duran

Deslumbramentos

Milady, é perigoso contemplá-la
Quando passa aromática e normal,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala,
Com seus gestos de neve e de metal.

Sem que nisso a desgoste ou desenfade,
Quantas vezes, senguindo-lhes as passadas,
Eu vejo-a, com real solenidade,
Ir impondo toilettes complicadas!…

Em si tudo me atrai como um tesoiro:
O seu ar pensativo e senhoril,
A sua voz que tem um timbre de oiro
E o seu nevado e lúcido perfil!

Ah! Como me estonteia e me fascina…
E é, na graça distinta do seu porte,
Como a Moda supérflua e feminina,
E tão alta e serena como a Morte!…

Eu ontem encontrei-a, quando vinha,
Britânica, e fazendo-me assombrar;
Grande dama fatal, sempre sozinha,
E com firmeza e música no andar!

O seu olhar possui, num jogo ardente,
Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo;
Como um florete, fere agudamente,
E afaga como o pêlo dum regalo!

Pois bem. Conserve o gelo por esposo,
E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,
O modo diplomático e orgulhoso
Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos.

E enfim prossiga altiva como a Fama,
Sem sorrisos, dramática, cortante;
Que eu procuro fundir na minha chama
Seu ermo coração, como a um brilhante.

Mas cuidado, milady, não se afoite,
Que hão-de acabar os bárbaros reais;
E os povos humilhados, pela noite,
Para a vingança aguçam os punhais.

E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,
Sob o cetim do Azul e as andorinhas,
Eu hei-de ver errar, alucinadas,
E arrastando farrapos - as rainhas!


Cesário Verde

Sofrimento

Como é possível assim sofrer?

Com lanças e cortantes a actuar,
É fogo que consome as entranhas a arder,
É um peso que não deixa respirar,
É impiedoso e dá vontade de morrer.

Sinfonia da Melancolia


Prelúdio
: By Starlight


Interlúdio
: Mellon Collie and the Infinite Sadness


Poslúdio: Farewell and Goodnight


© The Smashing Pumpkins

Basta Pensar

Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.

Viver é não conseguir.


Fernando Pessoa
Desconfio que estás chateada,
Mas reforço: - És a minha amada!
Apenas quis, confesso, mostrar arte,
Revelo que te amo, em qualquer parte.
Porque é forte, liso e recto;
É descomunal,é belo e circunspecto.
Muito mais, muito maior qu'ma alergia,
A tua doce palavra, é p'ra mim sinfonia.
Na pauta escreves todo o teu fulgor,
No ar perpetuas, o candido aroma do amor

Não És Tu

Era assim, tinha esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar,
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.

Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.

Era assim; o seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.

Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume ,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.

Mas não és tu... ai!, não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.


Almeida Garrett

À Noitinha

Partem hoje, o Poeta e seu Possante,
Cruzarão o itinerário principal nº4,
Juntos serão uma espada deslizante,
Cortarão os montes com precisão de x-acto.

Depois de passarem O Reino Maravilhoso,
Será um pulo até Amarante,
Os dois correm para o mais precioso,
Numa intensa cavalgada triunfante.

E depois de saltarem em Penafiel,
Cortarão a meta em Ermesinde,
E finalmente tocarão os lábios de mel.

Caprichai, Ó Vila

Bom dia Dona, fazeis-me um bolo de chocolate?
Sim, daqueles que que só a candura do meu doce bate.

Dizei ao povo para usar os de pé de cristal,
Que tirem da arca o faqueiro de prata,
A ocasião merece, pois é a mais formal,
Hoje está de volta a maior aristocrata.

Por isso, sejam afoitos, clariai a toalha,
P'ra sobressair melhor com as porcelanas,
Ireis servir a que mais encanto espalha,
Agradaí os olhos envoltos pelas mais belas pestanas.

E não vos esqueceis do mais relevante,
Aprumai o conduto em vossa cozinha,
P'ragradar de todas a mais importante,
Caprichai Ó Vila, está de volta a vossa Rainha!

L'Appuntamento

© Ornella Vanoni

Limpinho

Quando m'acusas de desleixado,
Prontamente respondo, cada vez mais apaixonado!
E, se afirmas, que era melhor no passado,
Contradigo, mostrando-me poeta muito mais enamorado.
Sempre te disse, melhor seria, como garantido,
Assim o cumpro, como te havia prometido.
Assim enches-te, o meu coração suprimido,
Rejuvenesces-te-o, como se não houvesse vivido.
E feliz, eu estou, por ter esses vidrinhos,
Feliz, eu fico, por te encher de carinhos.
Radiante, eu vivo, por ter esses dentinhos,
Chamo-lhes outro nome, mas são uns miminhos.
Já confessei, que assim não sai bem,
Mas assim confirmo, és tu, mais ninguém!

Não Tiveste Uma Lona, Mas Tens Aqui A Minha Homenagem Camarada

Não Manuela Não Vás

Xinamor, Agnieszka e Julian


E assim foi no dia do enlace,
Os dois lado a lado, face a face.
Foi oficializado com pompa o sentimento,
Recordado por todos, esse tão belo momento.

Com asas, ele começou
E voando foi, por vários lugares,
No dia ele culminou,
No mais elevado dos altares.

Tão lindo o laço da união,
Que caminhou a passo alargado.
Juntos, os dois, fizeram um só coração,
Sendo o casal assim, pela cegonha presenteado.

Agora está escrito o vosso futuro,
Para o menino, mamã e pró papá,
Tudo de bom à família eu auguro,
Que sejam felizes e se mantenham por cá.

Frazini

Venho assim, neste dia especial,
Congratular alguém que trago na saudade,
Um que fez por não ser banal,
Que facilmente entrou para a irmandade.

Ele mete musica e escreve canções,
Luta com força, para melhorar,
A tagarelar com mais invenções,
Mais um que é diferente, sabe aMar.

Eu te felicito com muita emoção,
A ti que és dos nossos,
Grande Camarada Frazão!

Fire

© Nigel Kennedy

Post-It II

Porque é simples e sincero,
o que te digo com brio e veracidade,
O motivo porque me esmero,
É tão real a minha verdade.

O Meu Momento

Vivo este momento de encanto,
Ao ver-te a meu lado acordar.
Enroscados ocupamos apenas um lado,
Seja ele qual for, é esse o teu devido lugar.
Vivo este momento ao amanhecer,
Ao ver-te a meu lado bocejar.
E assim poder-te logo dizer,
Como é bela a sensação de te amar.
Vivo este momento de doçura,
Que me faz endoidecer.
Exprimo com palavras a candura,
De em meu peito te ver adormecer.

Livre-arbítrio III

© Nina Simone


© Marilyn Manson


© Creedence Clearwater Revival


© Screamin' Jay Hawkins

Doces Para o Meu Doce III

Sirvo-te neste prato um docinho,
A ti, que me dás o brilho do teu sorriso,
Enfeito-o com todo o carinho,
A ti, que me dás tudo o que preciso.

Sirvo-te neste copo um suminho,
A ti, que me proporcionas a carinha,
Enfeito-o com um belo miminho,
A ti, que me dás a boa coxinha.

Sirvo-te neste prato todo o meu amor,
A ti, que na cara me serves pintinhas,
Enfeito-o com o que quiseres, Bela Leonor.

Minha Quinta Sinfonia

Quando me lembro quem eras
Desse corpo que foi nosso
Desse amor que não deu certo
Era o tempo das quimeras
Das palavras em silêncio
Quando o mais longe era perto
Tinhas nos olhos a esperança
Os desejos de aventura
As ilusões que eram minhas
Nos momentos de ternura
Tinhas os seios a graça
Das primaveras que tinhas
E foste a música que em mim ficou
Quando a distância nos fez separar
Ando louco para te encontrar

Foste a quinta sinfonia
Fuga da nossa verdade
Sonata tocada em mim
Foste o meu sol afinado
Neste samba de saudade
Vinicius, Nara e Jobim
Foste verso de balada
Foste pintura abstrata
Meu bolero de Ravel
Foste música sonhada
Numa canção de Sinatra
Com um poema de Brel
E foste a música que em mim ficou
Quando a distância nos fez separar
Ando louco para te encontrar

Foste estrela de cinema
Minha dama de Xangai
Hiroxima meu amor
A minha grande ilusão
Eras fúria de viver
Quanto mais quente melhor
Grande amor da minha vida
Senso, silêncio, paixão
Buñuel, Fellini, Troffaut
Foste luzes da ribalta
Música no coração
E tudo o vento levou
E és ainda o que me faz sentir
Dentro da vida p'ra te cantar
Ando louco para te encontrar
Para te encontrar....


Paco Bandeira

Briseis III

1

Há 1 nasceu o espelho da estória
A cada virar de página, outra festa
Brasão do Reino e da eterna glória
D’O Sonho é tudo o que nos resta

Sítio sem pátria, mas com bandeira
Cor da alegria em tons de amor
Acolhe todos de igual maneira
De braços abertos com fervor

Ser requintado, alimenta-se de excelência
Encontra sustento nas memórias encantadas
Seja em dias de júbilo ou de turbulência
É o ponto de encontro dos camaradas

Há 1 nasceu o meu, o teu, o nosso diário
Onde se perpetua a doutrina, o santuário
Parabéns pelo primeiro, feliz aniversário


Carlos Gomes

La Bamba

© Ritchie Valens

Certeza III

Meu Amor, agora que acreditas em mim,
Provar-te-ei que esta estória é sem fim.
Acredita, ela não é uma miragem,
É certinha, como o Vato e Ansky não terem coragem.
Imponente, o maior de todos os amores,
Tão real, como o Leandro não entender de processadores.
É uma garantia que te posso dar agora,
Verdadeira, como a Loira a trepar paredes ao chegar a hora.
Majestoso este sentimento, meu Amor,
Delicioso, como a tatoo encostada aos slipes do nosso Pastor.
Sentimento crescente, e nos teus olhos eu noto,
É uma certeza, como o Dirty posar para qualquer foto.
O verdadeiro motivo de tudo o que faço,
Garantido, como o Rei Branco ser o maior Palhaço.
Assim, sabes, que é teu o meu coração,
Uma realidade, como Baixinho ser sinónimo de Cabrão.
E te garanto, será para toda a nossa vida,
Tão simples, como o Chewie aspirar qualquer comida.
A maior das certezas, digo com todo o fervor,
És tudo o que quero, minha Doce Leonor.

Respira

O ar é um fogo que me consome,
É uma chama que me congela,
Uma brasa que não mata a fome,
É um pavio que não tem vela.

O ar é agua que não me molha,
É um vento que me enterra,
Um livro que não tem folha,
É um óleo que me emperra.

O ar em nada é meu amigo,
É apenas ele que me mantém vivo,
De todos o meu pior castigo.

Soneto Segundo

Pediste-me para falar d'alegria;
E nestas palavras tentarei fazer,
Serás o meu jarro de sangria,
Que meu copo jamais parará d'encher.

Se pela tristeza é mais fácil exprimir,
Este sentimento assombroso que m'ataca,
Meu ser apenas anseia ver-te sorrir,
Qual limpo deslizar duma faca.

És a que invade esta casa,
Aquela que emerge tão doce;
Qual bela e saborosa Ragazza,
Que o irónico vento me trouxe.

Lovesong

© The Cure

Engalanai-vos Ó Vila

Acordai mulher! Emperiquitai a sala,
Ponde ramos às janelas, hoje é dia de gala.

Finalmente usareis o vosso berloque,
Ireis tirar do baú, os tafetás,
Rápido! Está prestes a dar o toque,
Ela vai passar, dos Montes p’ra trás.

Com cuidado, engomai ao marido o fato,
Vende onde embeleza o pingente,
Na parede, endireitai o retrato,
Mostrai-vos bela e sorridente.

Ao centro, não esqueceis, fica a vela.
Ela não chegará de carruagem, mas de leão,
Aprumai-vos, ireis receber de todas, a mais bela,
Aquela que é dona do meu coração.

Trazei o casaco. Sim! O de fazenda,
No vestido subi, e debruai a bainha,
Sim, usai aquele bonito de renda!
Engalanai-vos Ó Vila, hoje chega a vossa Rainha.

Mary Had a Little Lamb

© Stevie Ray Vaughan and Double Trouble

À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.


Miguel Torga

O Mais Belo dos Nomes

Ao céu aponto os braços,
Com eles abertos, prontos para dar,
Mais que uma bela sensação,
Mais do que o acto de amar.

Tempestuosos foram, tempos doutrora,
Concretos se escrevem os actuais,
Certezas eu reconheço agora,
Os tempos de hoje, são descomunais.

Escuto e digo, a frase que fiz,
A mais bela, a mais linda,
A única que me faz feliz.

A Retirada

A retirada tem um sabor amargo,
Será de derrota, será de amargura.
Ou algo que dentro de mim trago,
Que não consegue conquistar tal loucura.

Continuo navegando na escuridão,
Continuo em batalhas secretas,
Rumo à apreensão,
De terras incertas.

Não julgueis a vida por sua beleza,
Nem acheis que vá desistir.
Algo já consegui conquistar de certeza,
Veremos se sou capaz de resistir.


Oceanus

Livre-arbítrio II

© Israel Kamakawiwoʻole


© Celtic Woman


© Frank Sinatra

Noite

O mundo perdeu o seu encanto.
As Montanhas juntam-se em pranto.
Vão escorrendo pelo precipício,
Sem fim, aguardo o solstício.

Um sol que sorri, mas de sarcasmo,
Prazeroso a oferecer solidão,
Envolvente nas estradas do marasmo,
Tão brilhante como o breu da escuridão.

A lua desapareceu, puro ilusionismo,
Levou tudo, deixou apenas imensidão
De não mais ter fim este abismo.

Briseis II

Perfumais e arrebatais
Ai, Doce Briseis!
Na luta, vós continuais
E no ambiente da mentira vós entrareis.

Nesse doce olhar vós me acustomais
Com amargo cansaço vos escrevo,
Quando será, que em mim vós reparais
Nesta minha também posição de enlevo?

Trazeis silêncio em vosso falar,
Trazeis tristeza em vossas justificações,
Haverá sido um singelo palpitar?
Ou enfeitiçadas, perenes conclusões?


Oceanus

Os Versos que Te Fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem p'ra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim p'ra te oferecer.

Têm dolências de veludos caros,
São como sedas brancas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos p'ra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E, nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!


Florbela Espanca

La Dolly Vita

© The Smashing Pumpkins

Eden I

De volta ao jardim da beleza,
Onde a obra teve o seu início,
Lugar de alegria e de pureza,
Sítio que se tornou um vício.

Pensamentos percorrem seus caminhos,
Ladeados na botânica circundante,
Acompanhados caminham sozinhos,
Rumo a um presente tão distante.

Com chilreares as palavras surgem,
E o conto foi ganhando forma,
Com a brisa as folhas sorriem,
Qual metamorfose que nos transforma.

Briseis

Parai e pensai, doce Briseis.
Não vedes que vosso ramo foi longe demais?
Não existe sonho dos quais vós não entrareis.
Pois vós sóis o tesouro do nosso cais.

Vós não sóis Criseis.
No inicio bebia-se sumo de fruta.
Sem ter noção do que vos anceia.
E que fui eu que vos raptei durante a luta.

São os Ateus, entre os mortais.
Embora a tenha conquistado pela lança
São quem leva tudo e nada mais.
Mas na volta quem espera sempre alcança


Oceanus

Sweet Disposition

© The Temper Trap

Vila Real

Ornada de tantas galas,
Oh! abram alas;
Uma princesa.
É filha de um rei troveiro,
Sonho primeiro
D´aurea beleza.
O nome cheio de encanto,
Que eu amo tanto,
Também o diz:
Real d´aspecto e de graça
A sorrir para quem passa,
A filha de D.Dinis.

Teus filhos, linda princesa,
Tua nobreza
sempre te herdaram,
E nos campos de batalha
Nunca á metralha
Costas voltaram;
É ver o bravo Araújo
E aquele marujo
Diogo Cão...
Pelotas e Alves Roçadas
Brandiram suas esposas
A lutar por teu brasão.

À tua sombra descansa,
Deposta a lanças,
Bravo «Espadeiro»;
Ai! guardas em um jazigo
O grande amigo
Do Rei primeiro!
A tuas santa madrinha
Foi rainha
Santa imortal,
Que, num sorriso de amor,
Te converteu numa flor
Do jardim de Portugal!

Vila Real
Oh! que linda és!
Tens o Corgo aos pés
Em adoração!
Vila Real,
Como és gentil
Canta-te o Cabril
Beija-te o Marão!
Vila Real, Vila Real, VilaReal!...


Monsenhor Ângelo do Carmo Minhava

A Letra C

Seguindo distraídos para quem vê,
Aquilo que não quer ver nem saber,
Perdidos pela fome do querer,
Assim se regem, os meandros da letra C.

Anda assim o ser erguido,
Por tudo desconhecer,
Ele caminha distraído,
Sem saber o que lhe foi acontecer.

Muda o desejo, muda a vontade,
Com um simples acrescentar de letra,
Troca a bandeira sem piedade,
Passa de branca para preta.


Iustitia

Melodia

Tenho saudades do murmúrio,
Que me segredaste ao ouvido,
Foi um brilhante prelúdio,
O tesouro por mim merecido.

Foi no dia em que o rei partiu,
Que escalei a montanha,
A minha bandeira subiu,
Qual sensação que se entranha.

Jamais esquecerei o abraço,
Nossos braços foram o laço,
Que me guia em tudo que faço.

Baby

© Bad Company

Muito

Ele voltou a falhar,
Só porque deixou de acreditar.
Ele não viu um indício,
Viu-se perante um precipício.
Só precisa de segurança,
Para manter acesa, a chama da esperança.
Bastaria uma palavra sorridente,
Para atenuar o sufoco latente.
Seria o sentir-se seguro,
Para mostrar o sentimento mais puro.
Ele teme não ser entendido,
Ele é triste e arrependido.
Ele é só, e está a sofrer,
A única coisa que quer é morrer.

90+6

Hoje será mais um dia,
Em que engolimos o asfalto,
Chegaremos com a luz do dia
Para tentar, um novo assalto.

Ainda que o sol não sorria,
Não acredito no negro arauto.
Com as cautelas que me dizia,
Nem por isso me tornei cauto.

Assim espero ter a magia,
E conquistar mais este ressalto,
Eu já disse o que faria,
Sem problema ou sobressalto.

Hasta la Victoria

Fala aquele que quer acreditar,
Diz o crente que não pára de pensar.
Foi belo o tempo doutrora
Luta enfrentamos sempre... agora.
Já não haverá muito a inventar,
Não há chocolate ou doce d'amora
Para sublime destreza ofertar
O tempo irascível com a sua demora.
No topo do céu jamais irá parar,
No fundo do monte vive para reconquistar,
O paradigma de seu nome, amar.

Revelação, 365

Agora que faço o balanço,
Depois do tempo muito alterar,
Continuo sem ter descanso,
Sem nada querer mudar.

Não foram bons, todos os dias,
Foram diferentes como uma flor,
São uma luta p'ra que sorrias,
Para tornar mais doce, A Leonor...

Se verdadeiros os que conheci,
Valeram a pena, os momentos,
Que contigo já vivi.
De complicada resolução,
Diz o meu sentido coração;

Embeveceu pela pureza,
Amou de riste, por tristeza;
Lutou pela linda beleza,
De todas, a única certeza!

Fez por acreditar,
Que a vida assim lhe sorri,
E assim vamos continuar,
A entender menos, do que percebi.

Chovem montanhas e horizontes,
Aguardo impaciente por detrás dos montes!

Boa Sorte

Será o início doutra jornada,
Será apenas outra mudança.
Depois da tempestade anunciada,
Brilha com o sol, uma nova bonança.

E, esperemos que corra bem,
Assim abrirás mais um capítulo,
Sabes melhor do que ninguém,
O quanto precisa de ti,O Ridículo!

E sejam juntas, ou separadas,
Serão as mais importantes,
P'ra mim as mais aguardadas.

XIII [Soneto do Pau Decifrado]

É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:

Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:

À roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um U; [carualho]
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.


Manuel Maria de Barbosa l´Hedois Du Bocage

Ao Anónimo

19/05/11
21h15
Restaurante Marinheiro
Praça Dona Filipa de Lencastre, 187 - Porto

Até logo

6 + 1 Kuks

Venho um pouco atrasado
De qualquer forma venho dizer
Momento deve ser recordado
Para ninguém se esquecer
Sinto-me muito lisonjeado
E digo com todo prazer
Orgulha-me ser teu namorado

Interrogação

Julgo ter chegado a hora,
Julgo ter chegado a altura.
Espero, não te vás embora
E o reveles com toda a lisura.

Mates a sede aos curiosos,
Com o mais singelo acto.
Darás um cálice aos ansiosos,
Saindo assim do anonimato

Assim, Ó do forte abraço, te peço,
Pelos momentos passados contigo,
Desta forma eu me despeço,
Pedindo o teu nome, caro velho amigo.

Desejo II

Somente para exprimir,
Que estou aqui para ajudar.
Adoro ver-te sorrir,
Não te quero ver chorar.

Seja qual for o destino,
Trará uma luz que ilumina.
Terá o ombro do menino,
Para afagar a sua menina.

E quando passar a tempestade,
Acalmar-se-á a ansiedade,
Sorrirás novamente, com vontade.

Post-It

Hoje é dia de viagem,
Veremos o que irei receber,
Espero mais que uma miragem,
Se é que me faço entender...

Doces Para o Meu Doce II

Não será o que eu queria,
Não será o que mereces,
Venho assim, só neste dia,
Colmatar aquilo de que padeces.

Não será dos complexos,
Até porque a memoria iria falhar.
Serão apenas reflexos;
Espero que vás gostar.

Não será de frutos ou camadas,
Será antes de bolinhas despedaçadas,
Para deixar as minhas três meninas, mais animadas.

25

Trago um cravo na lapela,
Mando um cravo à vossa mesa,
Ponho um cravo à janela,
Este cravo é sem surpresa.

Chez Lounge II

Novamente ele ficou sozinho
Um pouco triste ele está
Ficou sem alma, carinho
Assim ele ficou por cá
Como não tem um miminho
Está de volta ao sofá.

.com

Serve o presente p'ra informar,
Que o menino, se tornou homem.
Ganhou asas, não parou de voar,
Tornou-se apetite daqueles que comem.
Foi à terra dos fachos, à dos nossos vizinhos,
Atravessou oceanos, juntou os que eram sozinhos.
Deixou a pegada, em todos os continentes,
Deixou lágrimas a uns, outros sorridentes.
Fez Indonésia, Canadá e um africano,
Fez Hungria, Estados Unidos, ainda subia o pano.
Foi à Malásia, Republica Checa e muitos mais,
Conquistou os Balcãs, Nórdicos e outros que tais.
Foi, passo a passo visitando terras afastadas,
Hoje, tem com segunda morada o Brasil.
Assim vos peço, soprem as velas Camaradas,
O que outrora foi menino, já ultrapassou as dez mil!

O Dia Em Que Perdemos A Chave Do Reino: Aramis II

*

Assim te envio, num cantinho de papel,
Um doce para tocar nesses lábios de mel.
Parte de Sabroso a todo o vapor,
Leva na mala, todo o meu amor.

Dia Mágico

O fruto é bom quando menos se espera
Nos teus olhos procuro magia
Estamos nesta nova era
Com essa voz maravilhosa, eu conseguia

Ah, como é bom essa tua beleza
Como o som das ondas e cheiro a mar
Sempre sozinha e cheia de tristeza
Mas algum dia isto tinha que dar

Por vezes não consigo controlar tanta sensação
Nas palavras que digo ou utilizar
Serás tu a minha opção
Para no final do dia tentar abraçar


Alex Dias

E David disse...

"Que quereis que vos diga?
Não consigo contrariar tal sensação,
É por ela que me levanto com vontade,
É por ela que vos acompanho todas as madrugadas.
Ela é o meu porto e a minha maré,
É as estrelas que me apontam o caminho.
Ela é popa é proa,
É o sol que brilha na minha janela e não me faz sentir sozinho."


M.P.
I Acto
9.ª Cena

Acordar

São duas da tarde e ainda estava a dormir,
foi bom teres falado estou mesmo a sair
Essa voz maviosa, logo pela manhã,
bate-me com mais speed que um Gorosan

Ai como é bom assim acordar,
com o sol na janela e a magia no ar
Olhar nos teus olhos e ver coisas sem fim,
e voltar para casa com esta música, dentro de mim

Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah ii uh ah ra,
Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah ai,
Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah ii uh ah ra,
Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah
ai, ai como é bom assim acordar

Um fim de tarde como este, aqui para nós,
mesmo com outros parece que estamos sós
Mais um café que a noite já aí vem,
gente como tu é o melhor que o mundo tem

Ai como é bom assim acordar,
com o sol na janela e a magia no ar
Olhar nos teus olhos e ver coisas sem fim,
e voltar para casa com esta música, dentro de mim

Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah ii uh ah ra,
Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah ai,
Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah ii uh ah ra,
Ptu ru ptu tu ru ptu, tu ri ah
ai, ai como é bom assim acordar


Paulo Gonzo

Sem Carta

Foi assim que nasceu,
Crescendo como erva daninha;
Uma estória que se escreveu,
Tudo! Tudo por uma carinha.

Pensei em farto, acertei em cheio,
Falei em verso, falei por arte,
Quis dar o precioso recheio,
A fortuna de ser só, só por amar-te.

E, foi assim que aconteceu,
A maravilha que eu criei,
Já se esfumou, já padeceu,
O povo chora, por não ter rei.

Bem lá no fundo, sempre se soube
Que era efémera, toda a doutrina,
Sábio o que aprende, ouve,
Bárbaro o que sabe, e não ensina.

Jamais direi, que foi em vão,
Até porque apenas enriqueci,
Deram riqueza, ao meu coração,
Esses momentos, que eu vivi.

Primeiro a tua mão…

Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé – o meu – sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.

É a onda do ombro que se instala
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.

O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.

Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama.

Por fim o sono calmo, que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansando no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio.


Rosa Lobato Faria

Quando o Sol Brilha

E hoje, voltei a sentir a brisa,
Senti passar-me na mão.
E sorrateira, ela desliza,
Pelos caminhos da emoção.
Sem espalhafato, é concisa,
Espero, não sopre em vão.
Traz na face o que precisa,
O meu espremido coração.

Por Isso Mesmo

Porque ser mar foi o que fiz,
Porque ser mar é gostar de ti.
Porque ser mar é aquele que diz,
Não camarada, não esqueci.

Porque ser mar, é enorme, é mais forte;
É o esplendor, é ser maior.
É rejubilar tantas vezes à sorte,
Esperar o melhor, ou o pior.

É por bem, para ser feliz,
Que fazemos por um vintém
Triste aquele que diz, que é só, não tem ninguém.

O Dia Em Que Perdemos A Chave Do Reino: Aramis I

Livre-arbítrio

© Gloria Gaynor


© Muse

Vazio

Aqui, sentado no silêncio que me encolhe,
Aguardo impaciente a chamada,
Sou aquele sem direito, que não colhe,
Os direitos da melodia evocada.

E assim permaneço,
A aguardar o azul que não pisca.
Será o castigo que mereço?
Por ser um artista que arrisca...

Exasperado, durmo na saudade,
Escrita em versos de verdade,
E me consome, sem dó, nem piedade.

Recado

O jeito que fazes com a mão,
Que balança a tua forma de andar,
De ar enche o meu coração,
Dá-me asas, faz-me voar.

O Dia Em Que Perdemos A Chave Do Reino: Prólogo

Fazem Sorrir

Gosto dos dois, da cor da avelã,
Dos que precisam de ajuda para perceber,
Gosto de vê-los acordar pela manhã,
E explicar-lhes o que tenho para dizer.

São brilhantes, são deliciosos,
Mesmo, por vezes se mostrando loucos,
Têm carácter, são belicosos,
Vão dando amor, aos poucos e poucos.

São circundados pelas mais belas plumas,
Fazem com que faça brilhar,
O meu mundo repleto de brumas.

Landslide

© The Smashing Pumpkins

Ser III

Felizes, nós fomos,
Felizes estamos, por aquilo que somos.
Venha o que estiver p´ra vir,
Encontrará a forma de estar;
Fazemos o sol sorrir,
Fazemos a lua brihar.
Agora que terminará o sonho,
Acreditem! Num futuro risonho.
Pois hoje, não é dia para lamentos.
Trazemos em nós o mais nobre dos sentimentos.
Ah, como me faz falta um abraço,
Como me deste no dia, em que me acolheste em teu regaço.
Sinto falta desses teus lábios de fada,
Dos beijos que me deste com essa língua encantada.
Que saudades eu tenho de tocar nas tuas pernas, que magia,
Aquelas que precisam de descanso, por estares de pé todo o dia.
Oh, como eu gosto desse teu formoso pé,
Que um dia me pareceu maior do que realmente é.
Que saudades eu tenho dos teus olhos de perdição,
Gosto deles dia e noite, com ou sem armação.
Oh, que falta me faz o cheiro do teu pescoço,
Dos fios de cabelo que se acabam no teu dorso.
Como quero tocar nessa barriga de beleza,
Mesmo que inchada por crepe de framboesa.
Que lindas são as sardas que na face tu trazes,
São o mais doce miminho, na carinha que tu fazes…

Coração de Pêssego

De doces, tenho uma mão cheia,
Todos do mesmo sabor, excepto um.
É bela a forma com que me enleia,
O único que me apetece, mais nenhum!

Sendo todos iguais, só esse sobressai.
Não sei se pela forma ou textura,
Sei apenas que só ele vai,
Beijar o meu palato com doçura.

E sinto, que esse é diferente,
Só quem o prova é que sente,
Que é bem mais doce e sorridente.

Porque Não Sei de Outra Maneira

© The Divine Comedy

Brisa d'Outono

Trago esta folha, caída no chão,
Guardo-a na arca, para não a perder.
Ela dança a valsa dum furacão,
Que me faz lembrar, por não esquecer.

O tempo levou-a, consumiu-lhe a cor.
Apesar de viva, já nada me diz.
Pela rua sinuosa perdeu o fulgor,
Conta-me que foi pelo que não fiz.

Ao cume, espero, eu a levarei,
As montanhas já as movi,
Se vou conseguir, isso não sei.

Ser II

E foram tantos os momentos,
Desta estória de encantar,
Foram gulosos pensamentos,
Que nos fazem p'ra sempre cantar,
Soprem de qualquer lado os ventos,
É nosso, para sempre, O Mar!

I Feel Love

© Donna Summer

Quinando

E, foi mais um, a viajar,
Mais um que tomou outra estrada.
E é com imenso pesar,
Que sentimos a sua largada.

E ele vai, abrir asas e voar,
Deixará em nós a sua passada,
E a sua forma de estar,
Essa, já está gravada!

Com alegria e marejar,
Digo-te meu Camarada,
Serás Sempre, Sempre Mar.


E Leonor disse...

"Conheci alguém que me faz sentir fora de mim.
Alguém que por mim move castelos,
Rouba o sol e rouba a lua,
Faz pintura e faz magia,
Faz-me viver num mundo de alquimia.
Faz-me voar para além das nuvens,
Faz de mim especial,
Faz-me crer que sou a tal.
Ele que tem o governo do meu rumo,
Que dirija as minhas velas."


M.P.
II Acto
30.ª Cena

2.º Dentinho

É estalactite formada em marfim.
Dorme numa gruta coberta de beleza.
Banhada por bolhinhas sem fim,
A maior maravilha da natureza.

E não se percebe o porquê,
Ainda sente, apesar de adormecido.
Grato por estar à minha mercê,
Pois sem ele, nada faria sentido.

Mesmo trajando de enriquecido,
É o melhor que o meu azul vê.
O mais doce sorriso, por mim vivido.

Pastorini

Uns conhecem por Guimpereira,
Eu cá conheço por Pastor,
Seja qual for a maneira,
O que se sente, é amor.

E no silêncio fazes sonetos;
De qualquer maneira, sem sobressalto.
Fazes os campos repletos,
Seja o boi, baixo, alto!

E tens a força, nesse cartão,
Fazes bonito, claro,
Trago-te dentro, do coração.

Epítome da Valsa

À partida, parecerá uma forma sobranceira,
Compreendam, não o sabemos fazer doutra maneira.

Para todos os que entraram no barco,
Navegaram num ensaio em nada parco.
E picaram no Último Voo da Valquíria,
Imortalizaram passagens em gíria.

Viajamos pelos 60 segundos,
Tornamos solos áridos fecundos.
Quase perecemos na busca do ouro,
Mas conseguimos… O mais sublime tesouro.

Abençoados, com a graça, sabeis de quem!
Vimos mais longe… Muito mais além.

E fizemos por bem, por acreditar…
Tem mais significado, a palavra aMar.

Parabéns

90 anos de PCP!

A Gente Não Lê

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem


Carlos Tê

Han Solo

E eis que, depois das reprimendas,
E, em vesperás do Entrudo.
Cheguei a casa, não tive prendas,
Palminhas p'ro Cabeçudo!

Calha a Todos

© West Side Story

P'ra lá do Marão

Assim te digo para lá do Marão,
Por mais que cante, não se aproxima.
Apoiado de costas no Alvão,
Te dedico a ti, esta rima.

Mais uma vez assim te canto,
E a isso ja estás habituada.
Sei que para ti não será espanto,
Dizer-te mais uma vez; "Minha Amada!"

E se assim não chega, eu repito
Venho, assim, apenas para reforçar,
Tudo aquilo que tenho dito,
És a forma mais bela de amar.

I Feel Good

© James Brown

Ser I

Vos falo dum sítio especial,
Dum sítio diferente, em nada banal.
De gente bonita, de cariz sorridente,
Onde se sente no ar, algo surpreendente.
Lugar de lonas, pincéis e bilhetes,
De armário cheio, e de cozinhados,
Onde o cardápio só trás ramalhetes,
E as paredes se vestem de quadros.
Que foi o berço onde o Camarada nasceu,
Onde encontrei, a melhor coisa, que m’aconteceu.

Contemplo o que não vejo

Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.

Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.

Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.

Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.


Fernando Pessoa

Sweethearts

São docinhos, são gominhas.
São carinhos, são carinhas.
A delicia das mãos frias,
O desejo em que sorrias!
São pormenores, são recados,
São expressões, são cozinhados.
A postura e as meninas,
A bela forma com que m’ensinas.

São poemas, são canções.
São dois que pulsam, corações!
As lonas, as breves discussões,
A interminável onda de sensações.
São velinhas, são miminhos,
São cozinhas, são ausência de vizinhos.
A tortuosa onda de dores,
Inteiras ou aos pedaços, são flores.

E quero ter, nem que me mate,
É indescritível, a forma como me bate,
Não é engenho, é arte!

Lovin' You

© Minnie Riperton

Vicissitudes do Adeus

Nada se perderá. Tudo comigo ficará.

Tudo.

Aqueles dias em que ir para Leça eram castigo. Os dias em que a palavra de ordem era “fuck mar”.

A hedionda cor das paredes.

As caras estranhas.

Aquilo que ao inicio me criou ódio, hoje faz-me gritar “Somos Mar”.

Sou Mar.

Sinto orgulho em continuar a ser Mar.

Enche-me de honra e aquece-me o coração poder dizer que sinto, que serei Mar para sempre.

As noites de PRO, as noites de Festa na Aldeia, o cigarro na 8, o café no congelador.

Noites em claro para os ensaios, duma peça forjada em genialidade. Actuações com 40º de febre. Tudo graças a combustível Don Simon.

Despedidas, histórias de amor, lonas, bandeiras, quadros, poemas, cachecóis, francesinhas, bolonhesa e selfas. Muitas selfas.

Olho para trás, e vejo apenas amor. Amor fraternal. Juntos na luta e na labuta.

Foram um par de anos, que davam história para um par de séculos. Uma história linda. Um poema de Homero. Hercúlea.

Tudo o que é belo, nunca termina. Parte de mim, fica em Leça. Parte de mim vai para norte, para as terras do gelo, com o ridículo. O que sobra, só o destino o dirá.

Festejemos! São lágrimas de felicidade. Festejemos o que fomos e o que fizemos, e festejemos ainda mais, aquilo que vamos continuar a ser.


Um último cigarro.

Um último café.

Um último esgar para os meus irmãos e amigos.

Está na hora. Está feito.

Alex, desce.

Preto, vamos limpar isto que amanhã é o xerife que abre.

Filho, fecha o refeitório.

Cavelos, activa os ímanes, que eu nunca consigo.

Desliguem as luzes, baixem as lonas.

Amanhã há mais.



Eternos.



Até já.



Palhaço

A Efeméride da Marginal

Idiossincrasia

Na lisura deste soneto,
Reside beleza sem espanto.
Como o sentimento de Gepeto,
Ou a utopia do esperanto.

A dúvida do que sente Mona Lisa,
Certeza que Leonardo perpetuou.
Na verticalidade da torre de Pisa,
Reflecte o que o menino nos ensinou.

E ondas, Camões as cantou,
Virgens telas Sinatra pintou,
São pedaços daquilo que sou.

Chez Lounge

Assim veremos do que sou capaz,
A palma que mostro na mão, cabaz.
Ela não fecha, estará aberta,
Escancarada, mundo da descoberta.

Com telhado bonito e seguro,
Sorrisos e harmonia, auguro.
Que protejam as paredes,
E as incertezas sejam redes.

Batedor, serei no apuro,
Numa única demanda,
Proporcionar um porto seguro.

P.O.E.T.A.

A ver vamos o que se encontra,
De todas qual será a melhor montra.
Que a janela seja larga e absorvente,
Com raios que embalem docemente.

Que tenha um repasto com continuação,
Para que possa repousar, o meu coração.
Se isso não chegar, que tenha uma ideia,
Daquelas que cozinho, e encontro no IKEA.

E pouco mais o âmago augura,
Seja mais que uma visão futura,
Enrolada na lã duma qualquer Natura.

All I Have to Do Is Dream

© The Everly Brothers

Ventos

Obscuros e perigosos tempos se aproximam,
São espectros que na maré se envolvem,
Querem controlar as faces que sorriem,
Troca-las por almas que apenas choram.

Porém, as glórias, essas não se perdem,
Nem com as mudanças que se revelam.
Perceptíveis sensações que rebentam,
Em olhos de corações que não mentem.

E mesmo que isto, já pareça uma miragem,
Nossas serão as vozes que cantam,
Nunca, nunca deixaremos morrer a mensagem.

Agora Sim, Podemos Morrer Em Paz

© Mariachi Vargas de Tecalitlán


© Rebelo da Costa