Ser III

Felizes, nós fomos,
Felizes estamos, por aquilo que somos.
Venha o que estiver p´ra vir,
Encontrará a forma de estar;
Fazemos o sol sorrir,
Fazemos a lua brihar.
Agora que terminará o sonho,
Acreditem! Num futuro risonho.
Pois hoje, não é dia para lamentos.
Trazemos em nós o mais nobre dos sentimentos.
Ah, como me faz falta um abraço,
Como me deste no dia, em que me acolheste em teu regaço.
Sinto falta desses teus lábios de fada,
Dos beijos que me deste com essa língua encantada.
Que saudades eu tenho de tocar nas tuas pernas, que magia,
Aquelas que precisam de descanso, por estares de pé todo o dia.
Oh, como eu gosto desse teu formoso pé,
Que um dia me pareceu maior do que realmente é.
Que saudades eu tenho dos teus olhos de perdição,
Gosto deles dia e noite, com ou sem armação.
Oh, que falta me faz o cheiro do teu pescoço,
Dos fios de cabelo que se acabam no teu dorso.
Como quero tocar nessa barriga de beleza,
Mesmo que inchada por crepe de framboesa.
Que lindas são as sardas que na face tu trazes,
São o mais doce miminho, na carinha que tu fazes…

Coração de Pêssego

De doces, tenho uma mão cheia,
Todos do mesmo sabor, excepto um.
É bela a forma com que me enleia,
O único que me apetece, mais nenhum!

Sendo todos iguais, só esse sobressai.
Não sei se pela forma ou textura,
Sei apenas que só ele vai,
Beijar o meu palato com doçura.

E sinto, que esse é diferente,
Só quem o prova é que sente,
Que é bem mais doce e sorridente.

Porque Não Sei de Outra Maneira

© The Divine Comedy

Brisa d'Outono

Trago esta folha, caída no chão,
Guardo-a na arca, para não a perder.
Ela dança a valsa dum furacão,
Que me faz lembrar, por não esquecer.

O tempo levou-a, consumiu-lhe a cor.
Apesar de viva, já nada me diz.
Pela rua sinuosa perdeu o fulgor,
Conta-me que foi pelo que não fiz.

Ao cume, espero, eu a levarei,
As montanhas já as movi,
Se vou conseguir, isso não sei.

Ser II

E foram tantos os momentos,
Desta estória de encantar,
Foram gulosos pensamentos,
Que nos fazem p'ra sempre cantar,
Soprem de qualquer lado os ventos,
É nosso, para sempre, O Mar!

I Feel Love

© Donna Summer

Quinando

E, foi mais um, a viajar,
Mais um que tomou outra estrada.
E é com imenso pesar,
Que sentimos a sua largada.

E ele vai, abrir asas e voar,
Deixará em nós a sua passada,
E a sua forma de estar,
Essa, já está gravada!

Com alegria e marejar,
Digo-te meu Camarada,
Serás Sempre, Sempre Mar.


E Leonor disse...

"Conheci alguém que me faz sentir fora de mim.
Alguém que por mim move castelos,
Rouba o sol e rouba a lua,
Faz pintura e faz magia,
Faz-me viver num mundo de alquimia.
Faz-me voar para além das nuvens,
Faz de mim especial,
Faz-me crer que sou a tal.
Ele que tem o governo do meu rumo,
Que dirija as minhas velas."


M.P.
II Acto
30.ª Cena

2.º Dentinho

É estalactite formada em marfim.
Dorme numa gruta coberta de beleza.
Banhada por bolhinhas sem fim,
A maior maravilha da natureza.

E não se percebe o porquê,
Ainda sente, apesar de adormecido.
Grato por estar à minha mercê,
Pois sem ele, nada faria sentido.

Mesmo trajando de enriquecido,
É o melhor que o meu azul vê.
O mais doce sorriso, por mim vivido.

Pastorini

Uns conhecem por Guimpereira,
Eu cá conheço por Pastor,
Seja qual for a maneira,
O que se sente, é amor.

E no silêncio fazes sonetos;
De qualquer maneira, sem sobressalto.
Fazes os campos repletos,
Seja o boi, baixo, alto!

E tens a força, nesse cartão,
Fazes bonito, claro,
Trago-te dentro, do coração.

Epítome da Valsa

À partida, parecerá uma forma sobranceira,
Compreendam, não o sabemos fazer doutra maneira.

Para todos os que entraram no barco,
Navegaram num ensaio em nada parco.
E picaram no Último Voo da Valquíria,
Imortalizaram passagens em gíria.

Viajamos pelos 60 segundos,
Tornamos solos áridos fecundos.
Quase perecemos na busca do ouro,
Mas conseguimos… O mais sublime tesouro.

Abençoados, com a graça, sabeis de quem!
Vimos mais longe… Muito mais além.

E fizemos por bem, por acreditar…
Tem mais significado, a palavra aMar.

Parabéns

90 anos de PCP!

A Gente Não Lê

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Aí senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem


Carlos Tê

Han Solo

E eis que, depois das reprimendas,
E, em vesperás do Entrudo.
Cheguei a casa, não tive prendas,
Palminhas p'ro Cabeçudo!

Calha a Todos

© West Side Story

P'ra lá do Marão

Assim te digo para lá do Marão,
Por mais que cante, não se aproxima.
Apoiado de costas no Alvão,
Te dedico a ti, esta rima.

Mais uma vez assim te canto,
E a isso ja estás habituada.
Sei que para ti não será espanto,
Dizer-te mais uma vez; "Minha Amada!"

E se assim não chega, eu repito
Venho, assim, apenas para reforçar,
Tudo aquilo que tenho dito,
És a forma mais bela de amar.

© Rebelo da Costa