Privz Uma Vez, Privz Para Sempre

Meu Quente Agosto

Será para o pico do Verão,
Para o mês que mata a saudade.
Sucumbirá a tua história então,
Aos pés da improbabilidade.

Não teremos nenhum talvez
Tal tamanha proximidade,
Percamos juntos a timidez
Num momento de sobriedade,
Tenhamos ambos a sensatez
D'encontrar a, felicidade.

Porque esperamos os dois,
Haverá sequer necessidade?
Não deixemos p'ra depois,
Tornarmo-nos realidade.

Sabes, com tod'a certeza,
E absoluta veracidade,
Ajamos com clareza
Visto ser nossa vontade
Descobrir a riqueza
De sermos... cara metade.

Agarra-me com sagacidade,
Esta é a tua oportunidade,
D'entender que somos verdade.


Viriato Vaz

Sofrendo por Você

© Sensible Soccers

Ariel II

Teus cabelos curtos doutrora
São hoje do tamanho da saudade
Daquela que há tanto foi embora
Sem jamais abjurar a irmandade

Dançaste o samba depois do fado
Hoje alimentas a alma de flamenco
Seja qual for o teu consulado
Pertencerás sempre a este elenco

Sofremos pois, com a tua ausência
Ó bela e resplandecente sereia
Curvamo-nos em total deferência
Oferecendo-te esta simbólica epopeia

Mesmo longe, trazemos na memória
Teu sorriso, tua essência, tua glória
Teu papel fundamental, nesta estória


Carlos Gomes & Rebelo da Costa

Não Eras Tu

Sinto perto teu cheiro
Por entre tantos odores,
Ainda que chegue ligeiro
Inebria qual ramo de flores.

Vejo-te agora à direita;
Mesmo à minha frente.
De tanto estar à espreita
Julgo estar já demente.

E teus cabelos doirados
Impelem o meu avanço.
Longos, finamente esticados,
Esvoaçando no teu balanço,
Tornam-se como qu'avermelhados
Travando meu impetuoso lanço.

Mas sei que aqui estás
Perdida nestes aromas,
Basta que olhes p'ra trás
Emergindo sobre as sombras.

Os graves mudam de tom,
Ritmados e mais cadentes,
Pelo percurso ouço o som
De múltiplas línguas diferentes.

Agora sei, seguramente
Que valsas na multidão.
O meu desejo é premente
De t'encontrar na escuridão.

Namoro tua delicada anca,
Tão sinzelada silhueta,
Moldada por saia branca,
Enfeitada com fita preta.

O salão cruzo com perseverança
D'em meus braços te recolher,
Rapidamente perco a esperança;
Visto realmente, não te reconhecer.

Não és tu, não és.
P'lo que vejo confesso
Não foi um revés,
Antes, um sucesso.

E então dançamos
Por um bom bocado,
No bar conversamos
Riscando o passado.

Funciona, tal pertinácia
Pois brindamos os dois agora...
Poderá parecer falácia,
Mas ela quer, já ir embora.

Saímos os dois apressados
E logo começamos a perceber,
Estivéssemos menos tocados,
Saberíamos o que irá acontecer.

Bastantes copos e vários cigarros
Acompanharam tão belo momento.
Saímos de táxi, deixamos os carros,
O resto caiu... No esquecimento.

Acordo sem saber onde estou,
Mas vejo-te tomar banho...
Talvez não saibas quem sou
E permaneça p'ra ti um estranho.

Não me lembro como te chamas,
O que poderá ser um problema.
Assim parto, evitando dramas,
E não esperes, um telefonema.

Já cá em baixo sinto ar fresco,
Ele desliza sobre a calçada.
Surge-me um sentimento novelesco
Em forma de memória retardada.

Lembro que mantive a intrepidez;
Num gesto lhe estiquei minha mão.
Apercebo-me da tamanha estupidez,
De lhe ter dado, meu alvinegro cartão.

Voyeurismo 3.0

© Marta Ribeiro


© Rebelo da Costa