Mare Nostrum

Mar, preenches continentes e ilhas,
Foste feito da gota de nossas frontes,
A ti não esquecem teus filhos e filhas,
Por entre todos vales e montes.

Ó mar, que teu leito seja perpetuado,
Que acalmes quem em terra ficou,
Sempre serás o sítio encantado,
Para quem tristemente te deixou.

Mar sereno, revolto ou até mau,
Vaidosos te trazemos nas lapelas,
Rogamos, protege nossa nau,
E avante sopra nossas velas.

Meu, teu, nosso amado mar,
Nosso, que te fazemos salgado,
Sempre te iremos lembrar,
Mui nobre manto sagrado.

São Rosas

Para mim acabou a prosa
Que não me traz carinhos
Prefiro o cheiro duma rosa
Mesmo com seus espinhos

As suas pétalas abrem
Exalam uma demência
Ao cair elas sabem
Que m'acabou a prudência

No seu caule permanece
Um persistente botão
O resistente merece
A minha admiração

Foi o que t’aconteceu
Fino e triste revés
Rosa que pereceu
Foste, não mais o és

Cavalo de Tróia (Diz a Helena)

Chiu! As paredes têm ouvidos,
E os peitos trazem escutas.
Não têm pudor os sentidos
Qu’ingénuos são aquelas putas.

Chiu! Qu’inda nos ouvem,
E a coisa ainda sai mal
Ainda que eles assombrem,
Eu finjo que é coisa e tal.

Chiu! Que já estará quase,
Só me falta ir ao mar
Serei apenas a base
Amor não terei d’ofertar.


Viriato Vaz

Quando as Costas Estiveram Voltadas

Quando a magia do nosso Rei entra em ação
Nada consegue contrariar tal sensação
Curtir trabalhar e animar
Sempre na boa é o que está a dar

No Reino estiveste
No desconhecido prevaleceste
Do saber do Norte te alimentaste
Mas da minha terra foi a que mais gostaste

Seja gato preto ou branco
Não senti a consideração certa
Sofri, não percebeste o quanto
Mas mantive a alma aberta

Pecado será quem não te admira
E por tal contigo sempre fui correto
Vê lá não soltes a tua ira
Por ser assim tão direto


Oceanus


Lighthouse

© Patrick Watson

No Cume

Emito decibéis de poesia,
Puros orgasmos de leitura;
Emito bonanças d'alegria
E cataclismos d'amargura;
Emito toda a incoerência,
Vendavais calmos de tortura;
Emito leves brisas de demência,
E chuviscos secos de ternura;
Emito qualquer inconfidência,
Segredos levo prá sepultura;
Emito sinais de consciência,
E alguns laivos de loucura.


Da Cruz Francisco

Olhos no Mel

Está frio e a folha cai
No seco que está o chão,
No céu o sol sobressai
A folha entr'em turbilhão.

No ramo ainda balança,
Permanece a verde agora.
A castanha entra na dança
E voando... se vai embora.

Parece que vai chover
O céu está carregado,
Mais uma irá perecer
O chão está já molhado.

O vento que ali vem
Fará a chuva cortada,
A folha já vai além
No meio da enxurrada.

© Rebelo da Costa