Faz de Conta Amor

© Tindersticks


Faz de conta amor, faz de conta

Que em vésperas me visitaste
M'agarraste com tuas mãos garridas
A curta roda prontamente largaste
Embarcámos na locomotiva das vidas

Faz de conta amor, faz de conta

Que mergulhámos num turbilhão
Sem qualquer piedade ou dó
No ritmo da sofreguidão
Na dança de sermos um só

Faz de conta amor, faz de conta

Que foste um prado verdejante
Eu estandarte entumecido
Num final de rompante
Juntos num profundo gemido

Faz de conta amor, faz de conta

Que nada disto aconteceu
Façamos os dois amor, tu e eu


Da Cruz Francisco

Revelação, O Final

Adeus ó deusa especial, eu vou partir
Por nobre estrada sinuosa
Sigo a chorar, sempre a sorrir
Minha formosura, minha amargura
Simples maviosa, bela formosa
Um sonho repleto de candura
Que no lirismo é a prosa
Melíades, uma letra em balada
Botão perfeito duma rosa
No meu jardim na minha estrada
Meu peixe grande, meu peixe bom
Meu breu de noite iluminada
Que no silêncio é o som
Harmonia, foste uma estória encantada

Adeus Rainha do meu reino, eu parto agora
Não há mais nada que temer
Chegou altura, chegou a hora
És presente o futuro, és o passado
O ganho no meu perder, tu és a glória
Anel por chamas denunciado
Nas areias revoltadas a esquecer
Nefertiti, minha musa extaseante
Definitiva e provisória
Inspiração de conto edificante
Meu acordar primaveril, imensidão triangular
Minha sombra ensolarada
Na esfinge a rodear
A profecia amaldiçoada.

Adeus ó ninfa do meu mar, eu já parti
Sigo teu leito d'imensidão
Que tantas vezes percorri
Foste loucura, foste maré
Foste ilusão, raio de luz
Uma aventura iniciada no sopé
Manto sagrado, foste a brisa de verão
Oceânidas, uma beleza uma doçura
Porto d'abrigo que me conduz
Ao cume duma montanha de loucura
Foste o brilho no meu céu
A beleza, o meu alvor
Meu sepulcro, meu mausoléu
Adeus ninfa... Acabou amor

Eventualmente

Confesso, que muito tenho pensado
Em encontrar avanço no meu regredir
Depois de ter sido libertado
Não mais precisarei de fugir
E se antes me sentia amarrado
Agora domo a vontade de prosseguir
Talvez me encontre enferrujado
Talvez o momento não seja para sentir
Simplesmente me queira desencontrado
Ou seja altura de deixar sorrir

Por muito que me queira parado
Eventualmente deixarei de resistir


Da Cruz Francisco

Eden III

De volta meu jardim poderoso,
Por tantas horas m'acolheste,
Sempre te deste por piedoso,
Cumpriste o que me prometeste.

Fresca é a brisa que passa por ti
E envolve as folhas dos teus ramais,
Uma nova face entre eles sorri
Com alvura que finda jamais.

Sim meu velho amigo formoso,
Inicias agora nova profecia,
Meu paraíso, jardim poderoso,
Sem ti eu nunca venceria.

Jolene

© Miley Cyrus

Há Palavras que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill

Fénix

Os pássaros não largam o céu,
Apenas acalmam todo este calor,
Trespassando este espesso véu,
Tentam apaziguar um imenso ardor.

Mornos ventos de leste envolvem,
A seara já estéril e fustigada,
Nela as labaredas se dissolvem,
Dando nova vida de cor dourada.

Uma nova era, nova esperança emergirá,
Sob um imenso bálsamo esverdeado azul,
Resguardando a epopeia que ecludirá.

© Rebelo da Costa