Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., — unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... — abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio
Nada
Belo o doce rosto que é doçura,
Belo o sentimento remanescente,
Ele era o auguro de candura,
Ele é o ritmo dum doente.
De dar voltas para trás e para a frente,
E tentar enlevar a mais pura,
Não vemos o rosto nem a figura,
Não lemos as cores do que é crente.
Sendo gritante a falta revoltante,
Mostra possuir a negra alvura,
Desprezível e insignificante.
Belo o sentimento remanescente,
Ele era o auguro de candura,
Ele é o ritmo dum doente.
De dar voltas para trás e para a frente,
E tentar enlevar a mais pura,
Não vemos o rosto nem a figura,
Não lemos as cores do que é crente.
Sendo gritante a falta revoltante,
Mostra possuir a negra alvura,
Desprezível e insignificante.
Encantamento
Por entre sonhos aveludado,
Humedecido em florestas de avelã,
Nascido de façanhas é encantado,
Manuseado por minuciosa tecelã.
Um manto que se espalha de veludo,
Um porto seco, frutado a noz,
Um grito quente é o prelúdio,
Que lentamente nos cala a voz.
É figo doce tocado a pinhão,
Que nos envolve no mais sagrado,
Juntos, os dois, lado a lado,
A tua cabeça descansa no meu coração.
Humedecido em florestas de avelã,
Nascido de façanhas é encantado,
Manuseado por minuciosa tecelã.
Um manto que se espalha de veludo,
Um porto seco, frutado a noz,
Um grito quente é o prelúdio,
Que lentamente nos cala a voz.
É figo doce tocado a pinhão,
Que nos envolve no mais sagrado,
Juntos, os dois, lado a lado,
A tua cabeça descansa no meu coração.
© Rebelo da Costa