A Casa com Cercas Brancas

Vislumbro tua lânguida figura
Teu tom jovial e ameno
Aprazivelmente sereno
Contrastando na rocha escura
Com teus cabelos cor de feno

Teus olhos de água não vejo
Nem teu sorriso acidental
Simples, doce e divinal
(Despolotante de meu ensejo)
Torridamente angelical

(Porém, finalmente exulto)
Por entre o cenário alcantil
Moves teu avantajado quadril
Qu'embeleza teu estíptico vulto
Enfeitiçante grito Primaveril

Eis que cessa meu pesadelo
Vendo o arranjo de flores
Que trazes no teu cabelo
O teu corpo nu, sem pêlo
Teus ténues seios encantadores

Tua face brevemente pintalgada
Recebe esta brisa agreste
Vinda do norte azul celeste
Tornando-te arrepiada
Carente de uma veste


Da Cruz Francisco

Quintilhas à Maria João Rodrigues

Com atraso deveras latente
- Se não, pior pareceria
E ainda que na correria -
Desejo-te um dia sorridente
Ó nossa resplandecente Maria

Parece que te vejo na portaria
A sorrir, na brincadeira
Sempre alerta e ligeira
Pr'além de boa companhia
Sempre, Super-Porreira

Lisboa Mulata

© Dead Combo

Ao Ricardo Sousa

Parece que vejo o passado
Quando me esticaste a mão
Em época de turbilhão
Ainda eras bem anafado
Em mim já tinhas mais q'um irmão

Companheiro de várias marés
Acredita no meu sorriso genuíno
Feito por ti, meu libertino
Mas o que realmente és;
D'amores, O assassino

Será, sinto, será desta
Que na noite da vigília
Com os pés debaixo da mobília
Brindarão, claro em festa
Todos, uma grande família

© Dan in Real Life

To Ansky

Resumirei o essencial;
Caro amigo emblemático
De sorriso afável, simpático
Peça em tudo fundamental
Nobre gladiador informático

Juntos estaremos Navegante
De novo p'ra fazer arte
Que é o mais importante.
Eu, chegarei de possante,
Tu, chegarás de Smart

E faremos como naquele dia
Sim, no dia "Da Cena"
Vai já longe, é pena
O sol já n'altura sorria
E a nossa alegria foi plena

MJ

Até o Sol se Pôr

Viajámos por entre os montes
Pelas paisagens pastorais
Tão diferentes, quase iguais
Perdemo-nos nos horizontes
Tornámo-nos imortais

Tal era, o ambiente bucólico
Primórdio de natural esboço
Cedendo à tentação em teu dorso
Teu coração sistólico
Ouvi sem qualquer esforço

Estávamos já aconchegados
Cofiava teus cabelos coloridos
Dessa vez, intensamente garridos
Como sempre, perfumados
E razoalvelmente compridos

Comtemplámos p'ra lá das fragas
Ambientes variados, verdejantes
Naturezas até, dissonantes
Repletas, e também vagas
Ali tão perto e tão distantes

Alguns versos dum novo poema
Beijando-te a orelha segredei
Mas comigo ficou. Guardei.
Qual seria o seu tema
Em breve to revelarei

Para a Próxima, Talvez

Vagueio p'los socalcos metálicos
Repleto de ânsia e expectativa
Não fossem eles mecânicos
Mais duraria a tentativa

Ainda não foi desta vez
Que tive a honra e prazer
Para a próxima, talvez
Me consiga embevecer

Foi absoluta a surpresa
Acredita, não esperava
Deparar-me com tal beleza
Que há muito não encontrava

Tua bela figura esguia
E teu charmoso ar exíguo
Proporcional a fidalguia
Tal o nosso estado contíguo

Teu nome já o conheço
E pouco ou nada mais sei
Enfim, será já um começo
Aguarda, pois tentarei

Quando te vir cá de cima
Talvez tenha a sensatez
De perder a timidez
Para a próxima...
Para a próxima, talvez

O Menino da Sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.


Fernando Pessoa

Mr. Hot Dog

Estado: - "Sofrendo por Você"

Vai sorrateiramente emergindo,
O meu estado à tua mercê.
Estivesse eu sorrindo...
E não "Sofrendo por Você".

Mas ambos gostamos desta dança
De profunda e desmesurada atração.
Veremos p'ra onde penderá a balança;
Se nos dirá se sim, talvez, ou se não.

Enquanto nos embevecemos
Com palavras e afagos,
Calmamente nos conhecemos
Ainda que sejamos algo vagos.

Faltará a segunda parte
Desta música interminável,
Ouçamos, os dois, a arte
Será ela, p'ra nós memorável.

O Dia do Adeus


© Rebelo da Costa