I Feel Good

© James Brown

Ser I

Vos falo dum sítio especial,
Dum sítio diferente, em nada banal.
De gente bonita, de cariz sorridente,
Onde se sente no ar, algo surpreendente.
Lugar de lonas, pincéis e bilhetes,
De armário cheio, e de cozinhados,
Onde o cardápio só trás ramalhetes,
E as paredes se vestem de quadros.
Que foi o berço onde o Camarada nasceu,
Onde encontrei, a melhor coisa, que m’aconteceu.

Contemplo o que não vejo

Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.

Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.

Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.

Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.


Fernando Pessoa

Sweethearts

São docinhos, são gominhas.
São carinhos, são carinhas.
A delicia das mãos frias,
O desejo em que sorrias!
São pormenores, são recados,
São expressões, são cozinhados.
A postura e as meninas,
A bela forma com que m’ensinas.

São poemas, são canções.
São dois que pulsam, corações!
As lonas, as breves discussões,
A interminável onda de sensações.
São velinhas, são miminhos,
São cozinhas, são ausência de vizinhos.
A tortuosa onda de dores,
Inteiras ou aos pedaços, são flores.

E quero ter, nem que me mate,
É indescritível, a forma como me bate,
Não é engenho, é arte!

Lovin' You

© Minnie Riperton

Vicissitudes do Adeus

Nada se perderá. Tudo comigo ficará.

Tudo.

Aqueles dias em que ir para Leça eram castigo. Os dias em que a palavra de ordem era “fuck mar”.

A hedionda cor das paredes.

As caras estranhas.

Aquilo que ao inicio me criou ódio, hoje faz-me gritar “Somos Mar”.

Sou Mar.

Sinto orgulho em continuar a ser Mar.

Enche-me de honra e aquece-me o coração poder dizer que sinto, que serei Mar para sempre.

As noites de PRO, as noites de Festa na Aldeia, o cigarro na 8, o café no congelador.

Noites em claro para os ensaios, duma peça forjada em genialidade. Actuações com 40º de febre. Tudo graças a combustível Don Simon.

Despedidas, histórias de amor, lonas, bandeiras, quadros, poemas, cachecóis, francesinhas, bolonhesa e selfas. Muitas selfas.

Olho para trás, e vejo apenas amor. Amor fraternal. Juntos na luta e na labuta.

Foram um par de anos, que davam história para um par de séculos. Uma história linda. Um poema de Homero. Hercúlea.

Tudo o que é belo, nunca termina. Parte de mim, fica em Leça. Parte de mim vai para norte, para as terras do gelo, com o ridículo. O que sobra, só o destino o dirá.

Festejemos! São lágrimas de felicidade. Festejemos o que fomos e o que fizemos, e festejemos ainda mais, aquilo que vamos continuar a ser.


Um último cigarro.

Um último café.

Um último esgar para os meus irmãos e amigos.

Está na hora. Está feito.

Alex, desce.

Preto, vamos limpar isto que amanhã é o xerife que abre.

Filho, fecha o refeitório.

Cavelos, activa os ímanes, que eu nunca consigo.

Desliguem as luzes, baixem as lonas.

Amanhã há mais.



Eternos.



Até já.



Palhaço

A Efeméride da Marginal


© Rebelo da Costa